Retratos de uma família cobrem uma parede. Avós, tios, primos escasseiam e dão lugar à foto de uma mãe e seus dois filhos, desenhando a linha do tempo que a vida dá por sagrada. Às seis e meia da manhã de uma sexta-feira, Siddharth Menon se levanta e vai até o banheiro, onde se arruma para outro dia de aula. Ao passo que olha sua imagem refletida no espelho, a trilha sonora de Rahul Kannan e Sandesh Rao enche o quadro com uma música que o acoroçoa a ouvir os barulhos ao seu redor — afortunadamente o único momento desse jaez no filme —, e logo depois a mãe avisa a ele e Aditya, o irmão caçula, sobre uma viagem a trabalho que fará sozinha. De imediato, Babil Khan, Juhi Chawla e Amrith Jayan selam o alto nível das performances, uma constante até a última cena. Chawla, cuja personagem não tem nome — um grande pecado mesmo num conto de adolescentes e suas pequenas grandes tragédias —, ausenta-se por boa parte de “O Plano de Sexta à Noite”, regressando somente no desfecho; nesse ínterim, Neelakantan desenvolve com esmero os conflitos que cercam Sid e Adi, invertendo a lógica que se tem por natural e centrando no mais novo a aura de destemido, farrista, estroina, conquistador. É esse o atalho de que a narrativa se vale para encaminhar-se para seu lance de maior tensão, com o recontro envolvendo um ovo e a farda de Suhas, um subinspetor da polícia de Mumbai. Ninad Kamat empresta alma aos diálogos entre cômicos e quase filosóficos de seu quase vilão, encarado com toda a sabedoria das ruas que Adi pôde juntar, a mesma que com que parece seguir desatando os nós dessa família diminuta, imperfeita e adorável, em imagens que, paradoxalmente, nos remetem aos comerciais de margarina de antanho.
Filme: O Plano de Sexta à Noite
Direção: Vatsal Neelakantan
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 8/10
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