Manuel (Miguel Herrán) trabalha como contador em uma empresa e fora pego desviando dinheiro, o que o levou à prisão. Ele nega as acusações, dizendo que seu amigo, filho do dono, o estimulara a fazer o desvio. Enquanto aguarda julgamento, Manuel ficará mantido em cárcere junto com presidiários de diferentes níveis de periculosidade. Certo de que seu caso é simples e de que é inocente, Manuel custa a entender que não haverá julgamento para ele, pois a justiça não está interessada em soltar nem ele, nem ninguém. Por outro lado, as condições penitenciárias são péssimas e fazer amigos ali dentro é uma questão de sobrevivência. Entre erros e acertos, Manuel se envolverá com um grupo que quer lutar pelos direitos dos detentos e briga pela anistia de todos após o fim da ditadura franquista.
Com duas horas de duração, ‘Prisão 77’ passa a sensação de ser aqueles filmes baseados em histórias reais, embora seja ficção. Isso porque todo o enredo é tão factual, que mesmo sendo ficção um ou mais elementos das tramas podem ser facilmente encontradas na vida real.
O roteiro de Rafael Cobos e Alberto Rodríguez constrói bem o embate do protagonista – um filhinho de papai da classe média que cai numa roubada – dentro de um universo ao qual ele resiste a pertencer por se achar superior – ou melhor, menos pior do que os demais. Porém, a imaculada aura do protagonista às vezes irrita, pois mesmo com seu jeitão arrogante ele encontra pouca resistência na prisão, e ainda por cima consegue se tornar um líder, muito por conta de ser justamente um sujeito de classe média intelectualizado.
A direção de Alberto Rodríguez acompanha com firmeza o desenrolar da história, centrando-a sempre em seu protagonista, o que por vezes torna os personagens secundários um pouco obscuros demais, até o fim sem definir se são amigos ou inimigos. O diretor faz bom uso das locações e do contraste das vivências entre os personagens Miguel e Pino (Javier Gutiérrez), um cara mais sisudo que, diante do protagonista, reforça o quão ingênuo ele é. As cenas dos dois são sempre as melhores, inclusive em situações absurdas que provocam o riso.
» Assista também:
É inevitável fazer uma ponte entre ‘Prisão 77’ com a série ‘La Casa de Papel’, uma vez que Miguel Herrán participa de ambas, sendo que em uma ele é um assaltante e no outro ele está na prisão. Dá pra brincar de construir esse universo, muito embora os contextos sejam completamente diferentes. Mesmo sendo ficção, ‘Prisão 77’ demonstra a complexidade do sistema penal espanhol dos anos 1970 e que, em muitas camadas, permanece até hoje.
Você precisa fazer log in para comentar.